Quem sou eu

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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

segunda-feira, outubro 29, 2012

CANÇÃO DO ESQUECIMENTO



Ressurge em minhas cinzas
O cheiro de antes vida
Um cansaço assombroso
Ao passo de uma morte anunciada.
Eis o script, seguido à risca:

Ressuscitou em mim
As lembranças da vida tenra
Os meninos de casacos brancos
As missas dos domingos santos.
Tudo o que é mais habitual e sacro
Ressurgiu em mim
Uma gota de lágrima seca.

As memórias anunciam o
Esquecimento vindouro.
Feridas, mãos enrugadas e manchadas
Veneram toda minha existência hedionda.
Meu passo desassossegado,
O tilintar dos cristais poéticos e nobres
Em tabernas abafadas e úmidas de álcool.
Contradição da juventude.

A gola da camisa manchada de carmim
A menina dos olhos de santa
Corpo de anjo


Alma de Lúcifer...
Toda estranheza e excitação juvenil,
Hoje, não valem mais do que duas
Lágrimas úmidas no canto do olho...

Estas que escondo
Resvalando os dedos trêmulos
E cansados dos regressos de minha
Passagem terrena.

Evapora de mim agora,
No último suspirar pneumático,
Toda minha vida
Marcada por letras -
Homenagem ao sepulcro das horas.

Toda vida enterrada
No esquecimento da própria vida,
Agora, evapora de mim.

Que seja esta, senão operante,
Mas, ainda, sim, lúcida
A canção do esquecimento das memórias
De minhas lembranças
Acinzentadas pelo carvão incinerado
Da vida passageira.

Que seja feita a passagem.

sábado, outubro 27, 2012

Não culpe os outros
Quando há um desentendimento,
Quando houver hesitação de palavras
E a consequência for o não dito.
Não os culpe.
Há criaturas que precisam
Da comida mastigada
Para que possa ser digerida
Há inocentes que não
Mantêm o corpo ereto, pois
Embora adultos, necessitam
De um suporte, de uma muleta.
Há também muitos
Alunos da escola da vida
Que não absorvem o sentindo
Das orações incompletas;
Não assimilam a terceira pessoa do singular
Quando o referido sujeito
É o próprio locutor.
Não os culpe, deve ser coisa de genética
Ou uma peste viral
Imune à idade, à maturidade,
À instrução acadêmica.
Por tanto, seja paciente, não os culpe!
A maioria de nós
Precisa da fórmula matemática
Exposta no papel
Ou articulada na ponta da língua do professor
Caso contrário não resolverá a equação.
Não dará início à jornada aritmética.
Não culpe os pobres humanos,
Pois somos tantos
E os dizeres imaculados em uma discussão
Ou conversa sincera são os mais prejudicados
Já que não são usufruídos, não são ditos
Ficam revirando-se nas redes neurais,
Aumentando a pulsação sanguínea irritada,
Sobrando as meias palavras
A interpretação incompleta,
Recortada, mal articulada e tramada;
Sobram as descontextualizações verbais,
O enunciado truncado,
O sentido subvertido pelo funcionamento
(ir)racional do interlocutor,
Falta a tal polifonia,
A desconversação metafônica e metafórica.
Não os culpe, pobres humanos!
Há que se fazer um desenho
Da coisa toda não dita
E presentear o companheiro outro
Porque os mortais racionais e incrédulos,
Os que não observam a semiótica do corpo que fala
Sem pronunciar palavra,
Só entenderão o implícito
Quando esse estiver
Nas suas fuças
Como este traçado
Que acabo de esfregar na tua cara.

quarta-feira, outubro 24, 2012

TEOFANIA


Se não era ele
Tudo o que mais eu quisesse ser
Era, então, o meu trato vocal.
Aparelho fonológico
Percursor de entoadas homéricas,
As quais nunca fui capaz de criar.
Do amor platônico
Ao movimento lexical
Existencialmente humano e perspicaz
Do que um dia eu ei de me inventar
Nem que seja no desejo
Sorrateiro e incontrolável de me tornar sua musa.
Sua música.
Se não era ele,
Era eu
E eu nem sabia.