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- O que escrevo? Não sei. Só sei que minha alma grita e eu já não posso mais abafar nem conter essa ânsia.

segunda-feira, maio 24, 2010

Mudanças

Certos estudiosos da língua dizem que as palavras existem para dar nome as coisas e torná-las reais. Caso eu não nomeie determinados acontecimentos isso levaria a crer que eles não existem, não é mesmo?

Deletando palavras do meu léxico.

sexta-feira, maio 21, 2010

Desengano

Com este olhar circunspecto, distante do que fora seu,
ele caminha apressado, riscando o chão encerado com os seus sapatos de solado de borracha. As mãos trêmulas deslizam pelos cabelos grisalhos, emaranhados pela confusão.
No canto da boca um risco de sangue, no braço flácido, as marcas das unhas – quebradas com tanta gana e violência – ainda estão frescas.
O sangue ainda está vivo, vermelho.
Escorrendo.

Passos trôpegos no lado de fora. Na sala de jantar, as janelas estão cerradas iguais ao punho de Suzano que violentara os olhos, o corpo, a alma de Amélia.
Estendida, despedaçada em cada canto da casa.
Na gaveta de roupas íntimas, na cozinha dentro dos armários, no feijão que permanecia dentro da panela de pressão.

Olhos esbugalhados fitavam o corpo avulso estirado. Avulsa!, bradava entre dentes trincados.
Correu até o quarto do casal. Revirou a bolsa da mulher e, misturado a contas de luz e de gás, tirou o envelope cheirando a perfume vagabundo. Vagabunda!, internalizou soando frio.
Com o lenço manchado de sangue, limpou a testa úmida marcada por grossas linhas de preocupação. Linhas da imoralidade...

Leu com acidez aquelas linhas escritas por Amélia, a qual enfrentou os falatórios dos amigos e sua própria (in)consciência: largou os filhos  e a estabilidade conjugal que lhe mantinha frívola. Largou a vida das regalias pretensiosas. Negou suas próprias convicções.

Suzano. Homem honesto, injustiçado pelas mazelas de uma vida interiorana...
Suzano. Honesto, pueril. Que vez e outra cercava-lhe de atitudes fraternas. Quase um pai! Uma menina, a pequena Amélia.

Avulsa, agora, estendida no chão da sala. Pescoço marcado das angústias e desconfianças. Olhos marcados dos murros, molhados de desamor.

Os passos lá de fora deram meia volta. Eram de Emannuel, o marido abandonado, covarde. Não tivera forças nem coragem de arrancar Amélia dos braços de Suzano. Vira tudo da janela dos fundos da cozinha que permanecera aberta. Não tivera coragem e aos soluços cambaleou para a casa.

Amélia estirada ao chão, agora, avulsa por inteiro.

quarta-feira, maio 19, 2010

Transbordar

Não penso, de todo modo, ter perdido as palavras, ter perdido minha criatividade. O acúmulo de ideias e impressões não resolutas faz com que o mar das emoções serenem - já que são inúmeras as perspectivas. Nesse instante, tudo que vem à tona não marca o papel timbrado. Palavras e criatividade e ideias, em perfeita sintonia apesar das ironias da maré baixa, mantêm-se afastadas, avistando de longe as sofreguidões dessa passagem, dessa rima mal elaborada. Afastadas estão e assim permanecerão até que estejam refeitas, reformuladas, repensadas. Porque tudo em mim precisa ser visto com atenção, precisa ser tocado com sutileza, precisa ser esculpido com emoção.